REVIEW | Rematch é o caos arcade que (finalmente) faz o futebol ser divertido

Se você passou os últimos anos desconfiando de qualquer coisa com a palavra “esporte” e “videogame” no mesmo título, você não está sozinho. Depois de anos colecionando decepções com FIFA, eFootball e outras franquias requentadas, era fácil esperar que Rematch fosse só mais um produto malcozido e inspirado em Rocket League.

Mas não. É um jogo de futebol arcade com cara de meme e alma de gladiador. E, surpreendentemente, é viciante. Você entra, apanha, aprende e volta querendo mais.

A lógica aqui é outra: não há regras, não há juiz, e o campo é uma arena com paredes. Isso mesmo. Paredes que te permitem jogadas malucas, tabelas de cabeça com você mesmo, e até flutuar rumo à iluminação.

Uma partida dura 6 minutos. O trauma, bem mais

Tudo em Rematch é rápido: a bola, o placar, a frustração. Seis minutos por jogo, que parecem três quando você está perdendo e doze quando está segurando o empate.

E quando o placar está empatado, vem o golden goal. E é nesse instante, no minuto quatro da prorrogação, que o jogo te arremessa naquele estado mental entre o pânico e a euforia que chamam de flow.

Você se move no instinto. Não pensa. Só corre.

Mecânicas simples, caos garantido

O jogo oferece um tutorial que ninguém assiste, mas que deveria. Porque você vai tentar dar um carrinho quando deveria chutar, e vai usar o botão errado quando finalmente estiver frente a frente com o gol. E tudo bem. O jogo sabe disso. Ele até te dá gols extras de pena nas primeiras partidas.

Com o tempo, você começa a melhorar. Aprende a usar o minimapa. A alternar entre carrinho e desarme em pé. A usar chute curto com mais precisão. Não porque o jogo explica (ele não explica nada bem), mas porque a repetição te molda.

Você sente que está melhorando a cada partida. Mesmo quando está tomando goleada

Você pode escolher entre 3v3, 4v4 e 5v5. Só que aqui vale a Lei de Murphy: quanto mais jogadores, maior o potencial para burrices coletivas. A galera corre feito barata tonta, sem noção de espaço, posição ou noção básica de civilidade.

A real é que no 3v3, o jogo brilha. Ainda há caos, mas também há espaço para respirar. Espaço para aprender a driblar ou tocar. Para errar sozinho. E para brilhar sozinho também. Isso é bom. Isso é raro.

Divulgação/Sloclap

Agora, tem um detalhe que muda bastante a experiência: o tipo de controle que você usa.

Se você joga no teclado e mouse, prepare-se para uma curva de aprendizado mais acentuada. A movimentação é mais travada, e o mouse exige coordenação extra pra mirar e soltar o passe ou chute com precisão.

É mais difícil, mas há quem prefira, principalmente jogadores mais técnicos, que gostam de ter controle total sobre cada direção, cada força de chute, cada detalhe.

Já no controle tradicional (gamepad), o jogo flui como deveria. Os analógicos combinam bem com a movimentação rápida e os passes dinâmicos. É mais intuitivo, mais suave e, sejamos honestos, mais justo com o seu cérebro depois de um dia longo. Jogadores mais agressivos, focados em dribles e jogadas rápidas, geralmente se dão melhor aqui.

Em resumo:

Estilo de jogador Melhor opção
Técnico, meticuloso Teclado e mouse
Rápido, instintivo Controle tradicional
Gosta de sofrer Teclado e mouse mesmo
Quer se divertir Vá de controle logo

É tipo Rocket League? Quase. Mas com menos rodas e mais colapsos emocionais

A pergunta vem rápido, sempre que alguém vê um vídeo de Rematch: “É tipo Rocket League, né?” Sim. E não. E sim. Mas principalmente não.

Os dois jogos compartilham o DNA do caos arcade. Partidas rápidas. Mecânicas fáceis de aprender, difíceis de dominar. E uma física que às vezes parece mais emocional do que lógica. Ambos te colocam em uma arena fechada onde a parede é parte do jogo. Ambos transformam erros em espetáculo e gols em catarse.

Mas enquanto Rocket League te dá um carro, Rematch te dá pernas e as consequências disso são enormes. Você salta menos. Corre mais. Erra de formas mais humanas. Você não voa. Você tropeça. E aí tenta fingir que foi de propósito.

Se Rocket League é xadrez com explosões, Rematch é futsal com adrenalina e déficit de atenção

Além disso, Rocket League tem uma comunidade que já virou ciência. Existe meta. Existe “posicionamento correto”. Existe até gente que treina jogadas ensaiadas.

Em Rematch, ainda estamos no estágio paleolítico. Todo mundo corre atrás da bola ao mesmo tempo, feito criança de 7 anos. E é isso que o torna tão viciante: o jogo ainda é puro.

Outra diferença: Rocket League exige precisão quase cirúrgica. Rematch recompensa o instinto. Um corte certo. Um carrinho na hora exata. Um drible antes da estamina acabar. Um passe que não bate na trave. Você não precisa ser bom, só precisa ser melhor que o seu goleiro.

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Como é a jogabilidade de rematch?

Na teoria, Rematch é futebol. Na prática, parece um reality show com bola.

Cada jogador tem uma barra de estamina que evapora com corridas, carrinhos, dribles. Correr demais? Você vira um cone. Defender demais? Um zumbi.

E o melhor: ela demora pra voltar. Ou seja, dos 6 minutos de partida, metade você passa esgotado, com o botão de sprint gritando por socorro.

Goleiro: o herói trágico

A mecânica de goleiro é talvez a mais injusta e mais gloriosa do jogo. Quando você está no gol, o peso do mundo cai nos seus ombros. Você não tem visão de tudo. O tempo de reação é apertado. E qualquer erro vira highlight pro adversário.

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Primeiro: o goleiro tem uma estamina própria, separada dos outros jogadores. Isso significa que, mesmo quando todo mundo tá morto correndo pra frente, o goleiro ainda pode saltar, mergulhar, se jogar na bola como se estivesse numa final de Copa. Mas ela também se esgota. E quando acaba, meu amigo… o gol vem de mansinho, rasteiro, humilhante.

Ser goleiro em Rematch é ter superpoderes temporários e a certeza de que vão te culpar mesmo assim

Você também pode pular, coisa que os outros jogadores não fazem com frequência (nem com tanta utilidade). Esse salto é sua última linha de defesa, mas exige tempo, reflexo e uma leitura quase Jedi da jogada. Se errar o tempo, é um abraço.

E aqui vem a parte genial (e real): o goleiro não é fixo. Você pode sair do gol a qualquer momento. Virar goleiro-linha, correr pro ataque e, se alguém da sua equipe for sensato, essa pessoa automaticamente vira o novo goleiro. É como um sistema de confiança coletiva que geralmente dá errado.

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Você sai do gol achando que vai virar o herói do ataque… e volta pra ver que seu substituto virou estátua.

Em Rematch, o gol não é defendido. Ele é negociado

O sistema dinâmico transforma cada jogada em um dilema ético. Ataco ou fico? Me lanço ou espero? Ninguém quer ser o culpado, mas alguém sempre será.

Dribles: fingir que sabe o que está fazendo

O sistema de drible é mais profundo do que parece. Você pode dar toquinhos rápidos, fintas laterais, passes de calcanhar, heel flicks, cortes secos. Mas a verdade? A maioria dos jogadores usa tudo isso sem saber o que está fazendo. E funciona. Porque o caos é democrático.

Com prática, você começa a entender o tempo das jogadas. Aprende a dosar o drible, combinar com o sprint e confundir o adversário. O jogo recompensa ousadia, mesmo quando dá errado.

O melhor e o pior da internet

Rematch é online, o que significa que você vai se deparar com três tipos de jogador:

  1. O que joga bem e não fala nada.
  2. O que joga mal e fala demais.
  3. O que joga mal, fala demais e acredita que é o Messi.

Teve gente que gritou que eu deveria ir pastar depois de levar um gol inacreditável no último segundo. E esse tipo de drama… é o que faz o jogo inesquecível. Ou insuportável. Depende do dia.

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As comemorações são quase um minigame à parte. Depois do gol, começa o espetáculo: dancinhas exageradas, poses ridículas, piruetas desnecessárias. Tudo com aquela energia de “acabei de fazer história e ninguém vai me parar”. É irritante quando é contra você.

Mas quando é o seu personagem dançando sobre os escombros emocionais do adversário, é puro ouro. E, enquanto a bola rola, a arena muda de cenário com o tempo: o céu escurece, a iluminação muda, como se o campo também estivesse jogando ou, no mínimo, reagindo ao caos.

As mudanças visuais dão um clima inesperado às partidas e ajudam a quebrar a monotonia visual das partidas mais longas.

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Moedas, skins e… Ronaldinho

Como todo jogo moderno que se preze (ou se despreze), Rematch também tem sua economia própria. E, claro, ela é confusa. O jogo te joga na cara uma moeda chamada Quant, outra chamada Tokens, e talvez mais uma terceira, que você nem sabe pra que serve. É como se cada botão do menu abrisse uma carteira diferente.

Você ganha moedas jogando. Também pode comprar. E pode usar essas moedas pra liberar cosméticos: camisas, calças, chuteiras, chapéus ridículos, mochilas, a skin do Ronaldinho… Sim, o Ronaldinho.

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Com sua camisa diferenciada, dente torto e sorriso eterno. E sim, isso custa. Não só dinheiro: custa tempo, dedicação e alguns momentos de vergonha quando você tenta parecer estiloso, mas parece só um NPC do GTA San Andreas.

Quant? Token? Daqui a pouco vão inventar a moeda ‘Pano de Chão’ e você vai precisar dela pra trocar a cor da sua tornozeleira

O lado bom é que você não melhora atributos com os cosméticos. Eles são só aparência. E quem liga? Em um jogo onde todo mundo joga mal, a estética é meio que tudo o que você tem. Tem gente perdendo o jogo, mas brilhando mais que o letreiro do Times Square.

O sistema de loja é rotativo. Alguns itens são limitados. E sim, tem passe de temporada. Claro que tem. Porque o capitalismo não dorme, nem quando você está tentando só bater uma bolinha.

Matchmaking: o algoritmo que odeia você

Tem gente que acredita em horóscopo. Tem gente que acredita em karma. E tem gente que acredita que o matchmaking de Rematch é justo. Essas pessoas estão erradas.

O sistema de pareamento é, no mínimo, temperamental. Em uma partida você está em campo com um time que parece ter saído direto de uma seleção olímpica de malucos talentosos.

Na outra, é você e dois cones com crise existencial, enfrentando cinco semideuses viciados em drible curto e passes de calcanhar. Ou, ainda, numa mesma partida diversas pessoas entram e saem, parece que você está numa pelada de bairro.

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Pior: o jogo mal lançou, e já te joga contra gente com 200 horas de jogo — enquanto você ainda está tentando descobrir onde fica o botão de chute. É o clássico “bem-vindo ao online”, mas com esteroides. Assim, temos partidas que oscilam entre “batalha épica” e “sessão de humilhação pública”.

E como ainda tem pouca gente ranqueada, o sistema estica os critérios pra encher sala. Você tá no bronze? Fica tranquilo, vai enfrentar alguém do diamante porque “dane-se, é só jogo, né?” Não é. É pessoal.

Brincadeiras à parte, conforme o jogo foi avançando é nítido que a desenvolvedora Sloclap está trabalhando e aperfeiçoando o sistema, que melhorou bastante, mas é falho.

Problemas? Claro. Mas ainda dá pra engolir

O jogo ainda tem suas falhas. E algumas delas berram mesmo após várias janelas de beta. Os bugs são frequentes: você toca primeiro na bola e ainda assim perde a disputa. A física enlouquece. Os passes não vão para onde deveriam. E o pior: não tem crossplay. Isso mesmo. Em 2025.

Ah, e custa R$ 89. Um pouco salgado para um jogo sem modo história, sem modo offline. Mas ele está no Game Pass. E pode muito bem baixar de preço em breve. Se cair para uns R$ 49, é um baita negócio. E mesmo por R$ 89, ainda é mais jogo do que muito que custa o dobro.

Rematch: vale a pena?

No fim das contas, Rematch é um jogo sobre saber se divertir. E errar. E rir. É sobre comemorar um gol suado como se fosse final de Copa do Mundo. E chorar quando seu goleiro (ou você mesmo) faz um gol contra de tabela com a trave.

A verdade? Todo mundo ainda é ruim. Esse é um jogo como serviço com altíssimo potencial de evolução. Ainda não existe “meta”, ainda não existe tutorial supremo de YouTube dizendo o que é o mais certo ou errado.

Sim, ele ainda é um pouco repetitivo. Faltam modos diferentes, mais variedade de arenas, algum conteúdo além do caos. Mas é começo de jornada. E tudo indica que vem coisa boa por aí, se os desenvolvedores mantiverem o ritmo.

Por enquanto, é só você, a bola, e a loucura de tentar acertar alguma coisa.

Prós

Jogabilidade rápida e viciante

Mecânicas fáceis de aprender, difíceis de dominar

Sistema de dribles e passes que permite jogadas criativas

Visual estilizado e arenas com background dinãmico

Comemorações exageradas e divertidas

Goleiro dinãmico e com possibilidade de jogar na linha

Ótimo para jogar com amigos ou dar risada

Disponível no Game Pass

Contras

Ainda tem poucos modos e arenas

Sistema de moedas confuso e inflado

Sem crossplay

Bugs e colisões imprevisíveis

Alguns desequilíbrios em partidas com times grandes

Preço cheio ainda é alto

O jogo Rematch foi gentilmente cedido pela Sloclap, na versão para PC (Steam), para elaboração desta análise.

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