Muito antes do PlayStation se tornar sinônimo de CD-ROM nos games, a Philips apostou alto numa ideia promissora — e fracassou de forma retumbante. Este é o legado do CD-i, o primeiro console com leitor de CD embutido.
Quando o futuro chega cedo demais
Em 1991, a Philips lançou um aparelho que parecia sintetizar o futuro do entretenimento doméstico: o CD-i (Compact Disc Interactive), uma central multimídia com leitor de CD integrado e proposta interativa. Com preço inicial entre US$ 700 e US$ 800 (o equivalente a mais de US$ 1.800 em valores atuais), o dispositivo prometia unificar vídeo, música, jogos e educação digital. Só havia um problema: ele não nasceu como console — e quando tentou ser, já era tarde.
Um console que não queria ser console
O CD-i surgiu de uma colaboração entre Philips e Sony, iniciada ainda nos anos 1980, com o objetivo de criar um novo tipo de mídia interativa — o chamado padrão “Green Book”. A ideia era sofisticada: levar conteúdos digitais para a sala de estar, usando a televisão como interface e o CD como veículo.
No entanto, ao contrário dos consoles contemporâneos como o Super Nintendo ou o Mega Drive, o CD-i não foi desenhado inicialmente para jogos. Seus primeiros títulos eram enciclopédias, guias turísticos, vídeos educativos e experimentos de “edutainment”. A jogabilidade, quando existia, era superficial. Mesmo o sistema operacional era derivado de plataformas profissionais — o CD-RTOS, baseado no OS-9 da Microware — reforçando seu foco em aplicações multimídia, e não em performance lúdica.
NEC chegou antes com o CD-ROM² — mas era um acessório
Vale lembrar que o uso de CDs em jogos não começou com o CD-i. Em 1988, a japonesa NEC lançou o CD-ROM², um acessório para seu console PC Engine, que permitia rodar jogos com trilhas sonoras em qualidade de CD e até cenas animadas. Contudo, tratava-se de um add-on externo — não de um console com leitor de CD embutido de fábrica.
Somente em 1991, a NEC lançou o PC Engine Duo, uma versão com drive de CD integrado, mas com presença limitada fora do Japão. Por esse motivo, o Philips CD-i costuma ser reconhecido como o primeiro console stand-alone com leitor de CD nativo.
Reposicionamento tardio e tentativa de resgate
A popularização dos consoles 16-bit forçou a Philips a mudar de estratégia. A partir de 1993, a empresa tentou converter o CD-i em uma plataforma de jogos mais convencional. Adicionou porta para segundo controle, lançou um cartucho de vídeo MPEG para reprodução de filmes e passou a incentivar desenvolvedores de PC e console a adaptarem jogos para o aparelho.
Mesmo assim, o hardware não acompanhava. Os gráficos eram inferiores aos dos consoles da época, os controles tinham baixa precisão, e muitos jogos usavam vídeo em FMV (full-motion video) com pouca ou nenhuma interatividade. O resultado: uma experiência que desagradava tanto jogadores quanto o público geral.
Quando Mario e Zelda não salvam o dia
Em uma tentativa inusitada de atrair atenção, a Philips conseguiu licenciar personagens da Nintendo como parte de um acordo antigo, após o rompimento entre a gigante japonesa e a Sony no projeto cancelado do “SNES-CD” (o protótipo que daria origem ao PlayStation).
Isso resultou em jogos como Hotel Mario e três títulos da franquia Zelda, desenvolvidos sem envolvimento criativo da Nintendo. Os jogos se tornaram infames por sua jogabilidade ruim, animações amadoras e direção artística confusa. Mesmo com franquias poderosas, o CD-i não conseguiu convencer.
O CD-i também foi vendido como Magnavox — e não era exclusivo da Philips
Apesar de amplamente associado à marca Philips, o CD-i era na verdade um padrão aberto, licenciado para outras fabricantes. A Magnavox, subsidiária norte-americana da Philips, foi uma das empresas que comercializaram aparelhos compatíveis com o sistema.
Um catálogo de Natal de 1995 confirma a venda do Magnavox CD-i 550, com suporte a jogos interativos, reprodução de discos de vídeo e controle tipo “touch pad”. A oferta incluía títulos como Jeopardy, Video Speedway, Titanic e Pinball, e o marketing apostava na ideia de um “entretenimento familiar completo conectado à TV”.
Essa estratégia de licenciamento fazia parte dos esforços finais para manter o CD-i relevante, diluindo o nome “Philips” e tentando ampliar sua participação no mercado norte-americano. No entanto, mesmo com a distribuição sob marcas diferentes, a plataforma continuou a sofrer com a baixa qualidade dos jogos, poucos títulos disponíveis e forte concorrência de consoles focados exclusivamente em games.
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Vendas baixas, catálogo limitado, fim anunciado
Estima-se que o CD-i tenha vendido cerca de 570 mil unidades em todo o mundo, com um catálogo de aproximadamente 150 títulos — a maioria voltada para multimídia e aplicações educativas. A produção foi encerrada discretamente entre 1996 e 1998, com pouco impacto no mercado de games.
Em abril de 1995, a Folha de S.Paulo publicou que o CD-i chegaria oficialmente ao Brasil em setembro daquele ano, com um catálogo de 50 títulos entre filmes, discos e jogos educativos, além de um investimento publicitário de US$ 5 milhões
Protótipo e devkit do CD-i: uma raridade esquecida que reapareceu décadas depois